Seminário de participantes de fundos de pensão no RS debate cenários, perspectivas após eleições e resistência

A análise dos cenários econômicos do Brasil e do mundo e as perspectivas de futuro para a previdência complementar diante do resultado das urnas abriram, na tarde desta quinta-feira (8), os debates do XV Seminário de Participantes de Fundos de Pensão, no Hotel Embaixador, no centro de Porto Alegre.

O evento, que continua nesta sexta (9), a partir das 9h30, é promovido pela Regional IX – Rio Grande do Sul, da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão (Anapar).

Balões de ensaio e ataques aos direitos

O supervisor técnico do Dieese no Rio Grande do Sul, economista Ricardo Franzoi, fez uma exposição sobre os cenários econômicos, alertando para os balões de ensaio do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). “Estamos vivendo um momento em que temos que tomar muito cuidado”, frisou.

“É preciso olhar a economia mundial, o gasto público, o consumo e o investimento, o endividamento das famílias e das empresas e a previsão quanto à renda futura”, disse Franzoi.

Ele observou que a economia mundial vem crescendo e a perspectiva continua favorável. Não há uma tendência de alta dos juros americanos, mas existe “o efeito Trump”. No Brasil, Franzoi apontou o recuo da inflação, voltando ao padrão anterior à greve dos caminhoneiros, porém com alta taxa de desemprego e baixo crescimento econômico. “O PIB de 2018 está sendo hoje projetado em apenas 1,4%”, salientou.

O economista destacou que a reforma trabalhista do governo Temer, vigente desde 11 de novembro do ano passado, não trouxe os resultados prometidos. “Caiu o emprego com carteira assinada e aumentou o trabalho informal”, afirmou. Também cresceram os acordos por desligamento, que estabelecem valores inferiores nas rescisões, e os contratos intermitentes e as jornadas parciais de trabalho, reduzindo a renda dos trabalhadores.

Franzoi alertou para algumas das premissas econômicas do governo eleito: estado mínimo, privatizações, zerar o déficit público em um ano, desmontar o BNDES, retirada de subsídios dos bancos públicos e venda de até R$ 100 bilhões das reservas brasileiras.

“Se conseguir impor essa dieta draconiana ao País, estaremos condenados a mais alguns anos de inanição e ao aprofundamento do processo de desindustrialização”, avaliou o economista.

 

Cenário pós-eleitoral de incógnita

O professor aposentado da UFRGS e cientista político Benedito Tadeu César abordou as perspectivas depois das eleições e chamou a atenção de que a democracia liberal está em crise no mundo, além dos efeitos da globalização e do ultra liberalismo.

Ele destacou que, nos últimos anos, 42% a 49% do orçamento público do País tem sido destinado ao pagamento dos juros da dívida. Para ele, “o problema não é a dívida, mas os altos juros que são pagos”.

Benedito analisou também a vitória de Bolsonaro e a possibilidade de eleições fraudadas, citando as denúncias de caixa 2, o disparo em massa de mensagens no WhatsApp contra o PT, as mentiras (fake news), a coação eleitoral de empresas e a ausência de apresentação de projetos. “Demoraremos um pouco de tempo para entender o que realmente ocorreu nessas eleições e qual o grau de influência das manipulações no processo eleitoral”, apontou o professor.

Ele salientou também que “em vez de propostas, tivemos violência”, bem como o discurso da antipolítica, a geração de “outsider” e a atuação da grande mídia, do Judiciário e do Ministério Público “contra tudo o que está aí”.

O presidencialismo de coalizão e a (in)governabilidade também foram analisados pelo cientista político. Ele registrou a fragmentação da representação, o conservadorismo e o fisiologismo na política, destacando que a próxima legislatura terá 30 partidos na Câmara e 21 no Senado, além do crescimento da direita e do enfraquecimento do centro.

Além disso, Benedito alertou para a herança da “sociedade escravocrata”, que está na cabeça das elites e em setores da classe média. “Existe ódio por causa da política das cotas”, apontou ao explicar que “eles acham que as vagas são deles”, mostrando que “é uma questão de classe”.

Para o professor, “nós precisamos nos organizar” e construir uma frente ampla para a resistência no próximo período, juntando as representações da sociedade civil, onde os partidos comprometidos “também participem, mas não sejam protagonistas”, para dar conta dos novos desafios da conjuntura.

 

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